sábado, 27 de dezembro de 2008

SIMPLESMENTE “INTERNET”

A internet é hoje utilizada por milhões de pessoas em todo o mundo, mas será que podemos confiar cegamente no seu conteúdo? Quais as vantagens e os malefícios desta nova tecnologia que nos invade os lares e monopoliza a nossa vida? Vários autores de renome nacional e internacional já se debruçaram sobre este tema, entre os quais Andrew Keen, Marc Guillaume, Dominique Wolton, entre outros.
Cingindo-nos à análise de textos destes três autores, poderemos chegar a várias conclusões, ou antes chegar a várias interrogações que deixarão o leitor mais atento, e a meditar sobre este assunto.
Segundo Andrew Keen, citado por José Pacheco Pereira, no artigo publicado no Jornal Público, na edição de Sábado, 08 de Setembro de 2007, P. 37, o profissionalismo nos comentários de jornalistas, críticos literários, cientistas, ou especialistas de qualquer área, está a ser posto em causa por simples comentários “amadores” de cidadãos anónimos colocados livremente, e sem qualquer controlo, em blogues disponíveis na blogosfera. É no entanto este ponto, considerado também como uma vantagem por José Pacheco Pereira[1], que permite ao comum dos cidadãos opinar sobre assuntos e áreas que lhes estavam vedadas, não fosse esta tecnologia. A proliferação de “plágios”, boatos, difamações ou outras informações em que a veracidade é posta em causa, não havendo qualquer tipo de autenticidade ou certificação do que é escrito, é para Andrew Keen, um dos graves problemas da Internet. Facilmente, alguém se auto-promove ou difama a imagem de alguém, com comentários anónimos ou notícias falsas, cujas fontes não são reveladas, ou simplesmente não existem. Os download’s ilegais que prejudicam os verdadeiros autores, não lhes sendo pagas quaisquer taxas pela utilização das suas criações, são comparados por este autor a verdadeiros roubos físicos em lojas. No entanto, estes “roubos cibernauticos” são praticados por pessoas, que nunca o fariam fisicamente em qualquer local, revelando a mutação humana que a Internet permite a qualquer ser humano mais incauto. Alguém que seria incapaz de cometer um crime na vida real, no entanto é capaz de o cometer por detrás de um teclado e de um monitor, ignorando que tal acto lhe poderá trazer consequências para a sua vida “real”.
Andrew Keen dá-nos e exemplo da Wikipédia, como “o melhor exemplo da perda de critérios de rigor e qualidade”. A Wikipédia foi um projecto de centralização de informação, de criação de uma enciclopédia colectiva, baseado no método de tentativa erro, no entanto, segundo Andrew Keen, a sua credibilidade está a ser posta em causa, continuando a ser acedida por milhões de pessoas que pretendem aceder a informação credível, que no entanto “não sabem distinguir astronomia de astrologia”.
José Pacheco Pereira apelida Keen de “apocalíptico” e realça o valor da Internet em diversas áreas como a estatística, a sociedade de consumo, entre outras, alegando que as vantagens superam as desvantagens.
Para Dominique Wolton[2], a internet é vista como algo ainda pouco importante, que é facilmente ultrapassada por qualquer meio de comunicação tradicional, realçando a rádio como sua predilecta neste campo. Para este sociólogo, a internet não passa de “Um supermercado de informação” acessível de qualquer parte do mundo, no entanto coloca também a questão da validação dessa mesma informação, indo de encontro à opinião de Andrew Keen. Defende ainda a fiscalização e a aplicação de Leis de controlo neste campo, visto que apenas dessa forma é possível proteger “os mais fracos dos mais fortes”.
Já Marc Guillaume[3], apelida a evolução da Internet de “Comutação”, tendo em conta que interliga dois pontos. Este Professor de Economia, vê a Internet como algo de muito bom e útil, no entanto que deverá ser utilizado com muita cautela, e sem abusos. Para Guillaume, tendo em conta que o cidadão tem acesso a toda a informação a partir de um computador, corre o risco de não a saber utilizar ou filtrar, ou então de não a questionar ficando a ter um conhecimento “mosaico” e não integral do tema. Guillaume compara a utilização da Internet às máquinas de calcular na matemática, em que se nos limitarmos à sua utilização, nunca vamos saber verdadeiramente matemática.
Marc Guillaume, fala-nos de “Hibridação”, que será a “capacidade de acolher uma nova técnica, de uma maneira crítica, para lhe encontrar um lugar. A hibridação é algo que consiste em não rejeitar, mas também em não substituir”.
Será, em meu entender, este o lema que a sociedade deve seguir relativamente à Internet, aceitar, mas não substituir. Os prós superam os contras, estando em constante evolução e melhoramento. Concordo com Dominque Wolton, quando alega que devem haver leis específicas que controlem este espaço, dito virtual, e que ditem algumas regras. Quanto ao Internauta, deve sempre tomar uma atitude crítica e defensiva, quanto aos conteúdos que lhe são apresentados, tanto pela Internet, como pela Rádio ou Televisão.

Leonel Madaíl dos Santos
05 de Dezembro de 2008

[1] PEREIRA, José Pacheco – Está a Internet a matar a nossa cultura? Público. Lisboa. (8 Set. 2007), p. 37
[2] WOLTON, Dominique – Internet, mas… Jornal de Letras. Lisboa (14 Nov 2001), p.9-9.
[3] GUILLAUME, Marc – Podemos ser idiotas com a Internet, uns sábios idiotas. Diário de Notícias. Lisboa (1 Abr 2001), p. 45-48